Eu conheci um senhor idoso que vivia reclamando, sempre rabugento. Tudo estava errado – ele era um crítico nato. E, é claro, como ocorre com todos os críticos, ele sofria… porque às vezes estava quente demais, às vezes estava frio demais, e às vezes chovia demais, e às vezes não chovia. Em todas as estações, o ano todo, ele sofria. Mente negativa, atitude negativa – e ele tentava continuamente ser feliz, continuamente fazendo todo o esforço para estar contente e satisfeito. Mas nunca vi homem mais insatisfeito do que ele; ele era a própria personificação do sofrimento, da insatisfação, do descontentamento, onde estavam impressos todos os ressentimentos de uma vida inteira.
Mas de repente, um dia, ele mudou. Ele estava com sessenta anos, e no dia seguinte seria seu aniversário. As pessoas vieram cumprimentá-lo e não podiam acreditar no que viam – ele tinha mudado tão abruptamente, durante uma só noite. Alguém me contou isso, e eu fui até a casa dele averiguar, porque aquilo era uma revolução! A revolução russa não era nada se comparada com aquilo. A revolução chinesa não era nada se comparada com aquilo. Uma revolução! Durante sessenta anos aquele homem se treinara para o descontentamento. Como, de repente…? O que tinha acontecido, qual fora o milagre? (…) Eu perguntei ao homem – ele estava mesmo muito feliz, transbordando de felicidade:
– O que aconteceu com você?
Ele respondeu:
– Já chega! Por sessenta anos eu tentei ser feliz e não consegui. Então, ontem à noite, decidi: agora vou esquecer isso; não vou me incomodar com a felicidade, só vou viver. E aqui estou eu, feliz.
Ele perseguiu a felicidade durante sessenta anos. Se você vai atrás, fica cada vez mais infeliz. Você está indo reto como uma flecha, e Deus não acredita em atalho. Você atingirá o seu alvo, mas a felicidade não estará lá.
(…)
Ouvi uma estória sobre um grande imperador mongol, Barbur, que conquistou a Índia. Ele se tornou um dos maiores e mais poderosos imperadores, governando quase a maior parte do mundo já dominado por único homem.
“Um homem tido como sábio foi visitá-lo, mas ficou muito decepcionado. Barbur estava conversando com as pessoas da corte de um jeito bem profano – fazendo piadas vulgares e sujas, banais, em nada refinadas – e rindo até sacudir a barriga. O sábio ficou decepcionado. Ele disse: ‘Eu julgava que o senhor fosse um homem culto, pois ouvi muitas estórias sobre como o senhor ama a sabedoria; por isso vim aqui. Ouvi dizer que, na sua corte, o senhor tem muitos sábios, homens cultos, estudiosos, músicos, filósofos, homens de religião, e o que vejo aqui? Uma simples vulgaridade. É intolerável. Não posso ficar na sua corte nem mais um momento!’ Barbur disse: ‘ Só um minuto, antes de ir embora. Olhe para aquele canto.’ No canto da parede havia um arco. O sábio perguntou: ‘O que aquilo tem a ver com a situação?’ Barbur respondeu: ‘Não posso me conservar sempre tenso. Se o arco ficasse sempre tenso, sempre armado com a flecha, logo se quebraria. Perderia a elasticidade. Não seria flexível, e um arco tem que ser flexível; só assim ele fica vivo… quanto mais flexível, mais vivo. Aquele é o meu arco, e eu sou como ele. Às vezes, sim, eu fico tenso; a flecha está no arco, o arco está estendido. Mas só às vezes. Depois, eu descanso e também relaxo.“
Não sei o que aconteceu com aquele sábio. Acho que Barbur foi mais sábio do que ele. Um arco precisa de distensão, relaxamento. Você também é um arco, também precisa de relaxamento.
Para questões pequenas, o mundo do comércio, por exemplo, você pode se mover como uma flecha, porque esse mundo é criado pelo homem. Mas para aquilo que não é criado pelo homem, você não pode ser como uma flecha – você tem que ser como um arco relaxado.
(…)
Você não deve fazer coisa alguma para ser feliz. Na verdade, você já fez demais para se tornar infeliz. Se quiser ser infeliz, faça muito. Se quiser ser feliz, deixe que as coisas aconteçam. Descanse, relaxe e desligue-se.
Desligar-se é o segredo da vida. Desligar-se é o maior segredo. Quando você se desliga, se entrega, muitas coisas, milhões de coisas, começam a acontecer. Elas já estavam acontecendo, mas você não tinha consciência disso. Não podia ter; estava envolvido com outras coisas, estava ocupado.
Os pássaros continuam cantando. As árvores continuam florescendo. Os rios continuam fluindo. O todo continua acontecendo; e o todo é muito psicodélico, muito colorido, com infinitas celebrações acontecendo. Mas você está absorto, tão ocupado, tão fechado, sem nem mesmo uma janela aberta, sem receber nenhuma ventilação. Nenhum raio de sol consegue penetrar você, nenhuma brisa passa por você; você é tão sólido, tão fechado, o que Leibniz chamava de mônada. Você é uma mônada. Mônada significa algo sem nenhuma janela, sem abertura, em que todas as possibilidades de abertura estão fechadas. Como você pode ser feliz? Tão fechado assim, como pode participar de todos os mistérios à sua volta? Como pode participar do divino? Você terá que sair. Terá que abandonar essa clausura, essa prisão.
Para onde você está indo? E acha que algum lugar, no futuro, há algum alvo a ser alcançado? A vida já está aqui! Por que esperar pelo futuro? Por que adiá-la para o futuro? O adiamento é suicida. A vida é lenta; é por isso que você não pode senti-la. Ela é muito lenta, e você é insensível; o adiamento é o único veneno. Você se mata aos poucos. Você vive adiando – e vai perdendo a vida que está aqui e agora.
Quanto àqueles que alcançaram o aqui e o agora, a vida inteira começa a inundá-los de flores. Muitas coisas, com as quais eles nem sonhavam, começam a acontecer.